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terça-feira, 17 de março de 2015

CANÇÃO DOS TAMOIOS




I



Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.


II



Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.


III



O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!


IV



Domina, se vive;

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!


V



E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.


VI



Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.


VII



E a mão nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!


VIII



Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.


IX



E cai como o tronco

Do raio tocado,

Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.


X



As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

(Gonçalves Dias)


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